domingo, 10 de junho de 2012

Capítulo 10 - Usando o sangue



O sangue coletado dos doadores no banco de sangue é usado com diversos objetivos, mas sempre para benefício do paciente. Este capítulo fala sobre como o sangue é usado; quais pacientes em particular o recebem; as indicações para a sua aplicação; algumas organizações que trabalham com a causa e complicações que possam resultar de uma transfusão sanguínea.

Como o sangue doado é usado?

O sangue do doador é usado principalmente no tratamento direto de pacientes. Uma parte pequena, no entanto, é usada para checar a qualidade da produção; para ajustar aparelhos nos laboratórios hospitalares; ou, com o consenso do banco de sangue e do doador, para pesquisa.

O médico pode prescrever o sangue total ou um hemocomponente, de acordo com o motivo da transfusão. Normalmente, o sangue é usado apenas depois de ter sido separado em componentes. A separação aumenta a qualidade do sangue e possibilita que cada parte coletada ajude a um paciente diferente, evitando o desperdício.

Por fim, mas não menos importante, há o uso absolutamente “indireto” do sangue; o paciente não recebe nenhum sangue, mas os médicos nunca arriscariam começar um exame ou cirurgia complicada se não houvesse sangue disponível para o paciente no caso de uma complicação que causasse hemorragia.


O sangue do doador é usado tanto em conexão com acidentes e cirurgias como no tratamento de uma série de doenças.


Que tipos de pacientes recebem o sangue?

As transfusões de sangue são realizadas para aumentar a capacidade do sangue de transportar oxigênio, para restaurar o volume de sangue no organismo, para melhorar a imunidade ou para corrigir problemas na coagulação. Embora sejam normalmente associadas a acidentes e cirurgias, o sangue coletado também é usado no tratamento de uma série de doenças (em particular, no tratamento de tipos de câncer e de doenças do sangue).

Portadores de Talassemia Major

Também chamada de anemia do Mediterrâneo, a talassemia é hereditária e não contagiosa. O portador de talassemia produz glóbulos vermelhos menores e com menos capacidade de transportar oxigênio aos tecidos. Existem três tipos de talassemia, de acordo com a gravidade da doença:
  • Talassemia minor, ou traço talassêmico: não é considerada uma doença, mas uma característica genética. Não requer tratamento, mas é importante que a pessoa saiba se é portadora do defeito genético, pois ele pode ser transmitido aos filhos.
  • Talassemia intermédia: o paciente herda genes afetados do pai e da mãe, mas apresenta sintomas mais brandos que a talassemia major e não necessita de transfusões regulares de sangue.
  • Talassemia major: é o tipo mais grave da doença e acontece quando a pessoa herda os genes da talassemia, um do pai e outro da mãe. O gene da talassemia em dose dupla resulta em anemia tão severa que são necessárias transfusões de sangue regulares (a cada 20 dias) para a manutenção da vida.
Uma alternativa para cura definitiva da doença é o transplante de medula óssea, mas com chances de sucesso apenas em pacientes jovens, com irmão 100% compatível e sem complicações decorrentes de um tratamento inadequado.


ABRASTA – Associação Brasileira de Talassemia

Fundada em 6 de agosto de 1982 por um grupo de pais de portadores de talassemia, a ABRASTA é uma entidade beneficente sem fins lucrativos que tem como objetivos: divulgar a talassemia; proporcionar tratamento adequado; dar suporte às famílias após o diagnóstico e incentivar a adesão de doadores de sangue.

Portadores de talassemia, familiares, profissionais de saúde ou quaisquer outros interessados, de qualquer estado do país que tenham dúvidas sobre a doença podem contatar a ABRASTA pelo número gratuito 0800 773 9973, ou (11) 3149-5190, e pelo e-mail: abrasta@abrasta.org.br.


Portadores de Câncer

Uma grande parte do sangue doado é utilizada no tratamento de pacientes com câncer. Estes pacientes normalmente possuem anemia uma vez que sua produção de glóbulos vermelhos na medula óssea é impedida pela quimioterapia. Os sintomas da anemia são palidez, fadiga, tontura e dispnéia após esforço físico.


ABRALE - Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia

Informação, Educação, Apoio e Política são as áreas de atuação mais importantes e efetivas da ABRALE, fundada com o compromisso de mudar a história da Onco-Hematologia brasileira.

O Portal ABRALE (www.abrale.org.br) já se tornou referência na Onco-Hematologia. O site é atualizado diariamente com informações sobre as doenças, tratamentos e pesquisas.

Dúvidas podem ser esclarecidas por pacientes de qualquer lugar do Brasil por meio de ligações gratuitas para a linha 0800-773-9973, via e-mail abrale@abrale.org.br ou ainda pela seção “Fale Conosco” do site.


Doenças cardiovasculares e pulmonares

O sangue coletado é usado em diversas cirurgias, mas especialmente em pacientes com arteriosclerose nas artérias coronárias ou na aorta. Normalmente, estas doenças são tratadas em operações onde apenas uma pequena parte de glóbulos vermelhos é usada. No entanto, não é a quantidade usada por vez, mas o grande número de operações realizadas que são a causa da grande necessidade por sangue. No caso de cirurgias da aorta, a parede vascular pode se romper, causando uma hemorragia, que normalmente levam ao uso de 20-50 bolsas de glóbulos vermelhos, plaquetas e plasma.

Pacientes com grande perda de sangue (hemorragias)

Entre outros, este grupo de pacientes inclui os acidentados, por exemplo, no trânsito. Outros podem ser pacientes de úlceras estomacais com sangramento, hemorragia intestinal ou hemorragias pós-parto. A perda do sangue nem sempre precisa ser reposta com o sangue coletado, se o sangramento não for severo, o soro fisiológico pode ser suficiente. Em casos de hemorragia severa, é necessário transfundir glóbulos vermelhos correspondente à quantidade de sangue perdida e complementar com plasma e plaquetas.

Como cada hemocomponente é usado?

De todas as células no sangue, apenas as hemácias e as plaquetas são usadas no tratamento de pacientes.
As hemácias (concentrado de hemácias) são usadas para casos de hemorragias, operações e tratamentos de anemia.

As plaquetas (concentrado de plaquetas) são aplicadas em casos de hemorragia ou se a produção do paciente for insuficiente, por exemplo, devido a um câncer.

O plasma (fresco congelado) é usado em pacientes com falta de fatores participantes do processo de coagulação do sangue (por diminuição da produção, como em pacientes com cirrose, ou por aumento no consumo, como, por exemplo, em algumas infecções muito severas) e apresenta hemorragia ao mesmo tempo.

Normalmente os glóbulos brancos não são usados. Ao contrário, a quantidade de glóbulos brancos restantes é reduzida ao máximo através, por exemplo, de filtragem, uma vez que pode causar mais mal que bem aos pacientes.

A manufatura e o uso dos hemoderivados (produzidos do plasma)

O plasma que não é utilizado imediatamente nos pacientes é usado na produção de concentrados de proteínas encontradas no sangue (hemoderivados), por exemplo, a imunoglobulina e a albumina. Essa produção acontece em fábricas no Brasil e em outros lugares do mundo de onde o nosso País exporta. Na manufatura, 10-100,000 bolsas de plasma são misturadas em um grande container e expostas a vários processos químicos e físicos que fazem com que as proteínas se precipitem. Elas são retiradas para a continuidade do processamento, que incluí a eliminação de vírus, através do tratamento com calor e com produtos químicos.


Entre outras coisas, o plasma é usado na produção de diferentes tipos de hemoderivados:
  • Imunoglobulinas, usada no tratamento e prevenção de doenças infecciosas;
  • Protrombínicos, que impedem o sangue coagular;
  • Albumina, usado em tratamentos de choque e operações;
  • Fatores VII, VIII e IX, garantem a coagulação do sangue, e são usados no tratamento de pacientes com hemofilia, especialmente em forma de crioprecipitado.

O plasma restante, pobre em proteínas, ainda pode ser usado no tratamento de queimaduras.


Quando o sangue ou um de seus componentes deve ser aplicado?

Antes da transfusão de um hemocomponente, o médico deve prescrever a indicação de seu uso no paciente em sua ficha médica. Isso significa que o médico precisa considerar o seguinte antes:
  • O paciente conseguiria melhorar com alguma outra coisa além de sangue, por exemplo, soro, glicose ou albumina?
  • Qual a parte do sangue que o paciente realmente precisa?
Muitas pessoas, principalmente as mais jovens com um funcionamento normal do coração agüentam sem nenhum problema perder até um pouco mais que 1 litro de sangue (20% do volume total de um adulto) sem precisar que ele seja reposto com glóbulos vermelhos. No lugar de uma transfusão de sangue, o médico deveria escolher o uso do soro fisiológico que tem a condição de manter o total do volume do sangue estável ou optar por tratamento medicamentoso. Em retorno, evitam-se algumas das complicações que podem ocorrer devido à transfusão do sangue de outra pessoa.

Complicações que podem advir da transfusão de hemocomponentes

Complicações ligadas à transfusão de sangue não acontecem com tanta freqüência como antes. Mas, há três tipos de complicações que podem ocorrer quando se faz uma transfusão de sangue:

  1. Complicações imunológicas: causadas pela incompatibilidade entre o sangue do doador e do receptor, ou seja, quando o anticorpo no sangue de um reage com os antígenos no sangue do outro.
  2. Infecções: complicações com infecções que acontecem pela transmissão de bactérias, parasitas ou vírus contidos no sangue do doador. Uma pessoa pode, por exemplo, ter uma bactéria em seu sangue até 24h depois de ter ido a um dentista. Bactérias também podem aparecer durante a produção dos hemocomponentes, especialmente na produção de plaquetas, que são estocadas a 22°C, uma temperatura propícia ao crescimento destas.
Um vírus pode ser transmitido pelo doador se este já o tivesse em seu sangue. São de particular preocupação os vírus da hepatite e o HIV. Para evitar a transmissão, o doador é perguntado sobre seu comportamento e o risco de infecções, de forma a excluir-se o período da janela imunológica, e cada bolsa coletada passa por exames sorológicos.

  1. Erro Humano: Um tipo de erro pode ser, por exemplo, a transfusão de uma bolsa para o paciente errado. A bolsa foi rotulada com a informação de um paciente e destinada a ele, mas ainda assim acabou sendo usada no paciente errado. Ou a bolsa é transferida para o paciente certo, mas possui o tipo de sangue ou o hemocomponente errado.
Febres e alergias de pele são raras porque hoje apenas componentes são usados em lugar do sangue todo. Desta forma, evita-se dar ao paciente um sangue com grande quantidade de glóbulos brancos que podem causar esse tipo de complicação.

Resumo e questões

O sangue coletado do doador é diretamente usado no tratamento de pacientes. Uma pequena parte é usada para checar a qualidade da produção, para ajuste de aparelhos no laboratório hospitalar, e para pesquisa. O Plasma é usado para a produção dos hemoderivados como a imunoglobulina e a albumina. E o estoque também é usado como rede de segurança para casos de pequenas operações terem complicações inesperadas como hemorragias.

Os hemocomponentes são usados no tratamento de pacientes com câncer, cirurgias (especialmente cardiovasculares e pulmonares), hemorragias externas (ferimentos) e internas (doenças do aparelho digestivo, por exemplo), e tratamento de doenças do sangue (talassemia, por exemplo).

As hemácias são usadas no caso de hemorragia e no tratamento de anemia. As plaquetas em caso de hemorragia ou falta de plaquetas; e o plasma é dado a pacientes com falta de fatores de coagulação do sangue, ou fracionado em hemoderivados para tratamentos diversos.

Antes de transfundir um componente, o médico deve considerar se o paciente não poderia receber outra coisa no lugar do sangue, como soro ou albumina, e qual parte do sangue o paciente realmente precisa.

Complicações na transfusão são raras e estão divididas em imunológicas – causadas pela incompatibilidade entre o sangue do doador e do receptor; infecciosas – causadas pela transmissão de bactérias e/ou vírus; e causadas por erro humano.

  1. Coloque quatro áreas principais em que os hemocomponentes são usados.
  2. Em que condição particular cada componente é usado?
  3. O que poderia ser usado no lugar de hemocomponentes?
  4. Que tipos de complicações ocorrem quando da transfusão de sangue?

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