domingo, 10 de junho de 2012

Capítulo 5 - Grupos sanguíneos



Este capítulo trata sobre os tipos sanguíneos e sua determinação. Pessoas têm tipos sanguíneos diferentes como tem a cor dos olhos ou dos cabelos diferentes. Os tipos de sangue são caracterizados pelos tipos diferentes de antígenos que cada um possui na superfície das hemácias. Dessa forma, o tipo sanguíneo é determinado ao se mostrar qual antígeno o caracteriza. O antígeno se torna evidente através de sua reação com seus anticorpos pares. Assim, um antígeno “A” é mostrado através de sua reação com o “anti-A”. Este teste é chamado de “determinação do tipo sanguíneo”.

No corpo humano, há aproximadamente 300 tipos diferentes de antígenos distribuídos por 102 diferentes sistemas. Um sistema é uma coleção de antígenos sanguíneos que juntos definem sua característica. Os antígenos de vários sistemas sanguíneos podem se combinar de tantas formas que é quase impossível encontrar duas pessoas não relacionadas carregando o mesmo tipo de sangue.

Os sistemas de grupos sanguíneos

De todos os sistemas de tipagem do sangue, o sistema ABO e o Rhesus (Rh) são particularmente importantes quando se transfunde o sangue. Assim a tipagem do sangue normalmente especifica os tipos ABO e Rhesus (Rh), por exemplo, O Rh positivo ou A Rh negativo, normalmente resumidos em O+ ou A-.

O sistema ABO

É caracterizado por dois antígenos chamados antígeno-A e antígeno-B. Os antígenos do sistema ABO são parte da superfície de todas as células no corpo. Enquanto o tipo AB tem ambos antígenos, o tipo O não tem nenhum deles.

Os antígenos ABO são geneticamente determinados pelos genes A, B, ou O. Enquanto o gene-O não causa a formação de nenhum antígeno, os genes-A formam antígenos-A e os genes B formam antígenos-B.

Os genes são encontrados nos cromossomos de ambos os pais (por exemplo, A paterno e O materno) e constituem o que chamamos genótipo ABO. O fenótipo é a característica que o gene gera, podendo ser cabelos loiros, olhos castanhos ou um tipo sanguíneo. Usando ainda o exemplo do genótipo AO o fenótipo é o A, porque o gene-O não forma nenhum antígeno e o gene-A forma antígenos-A. Quando há apenas antígenos-A, o fenótipo é A e o tipo sanguíneo, por conseqüência também é o A.


A tabela abaixo mostra a inter-relação entre os genes ABO herdados dos pais; o genótipo ABO; a incidência dos antígenos ABO nos diferentes tipos; os fenótipos ABO; a incidência dos tipos ABO na população Brasileira; e a incidência dos anticorpos do sistema sanguíneo: anti-A e anti-B nos quatro tipos diferentes de sangue.


Gene Paterno
Gene materno
Genótipo
Antígeno
Fenótipo
Incidência
Anticorpo
O
O
OO
Nenhum
O
45%
Anti-A e Anti-B
A
A
AA
A
A
42%
Anti-B
O
A
OA
A
A
42%
Anti-B
A
O
AO
A
A
42%
Anti-B
B
B
BB
B
B
10%
Anti-A
O
B
OB
B
B
10%
Anti-A
B
O
BO
B
B
10%
Anti-A
B
A
BA
A e B
AB
3%
Nenhum
A
B
AB
A e B
AB
3%
Nenhum

Os antígenos A e B do sistema ABO, tem anticorpos respectivos: Anti-A e Anti-B. Uma das teorias é a de que eles são formados porque somos expostos aos antígenos A e B do bacilo Coli, entre outros estímulos da natureza. Coli é uma bactéria que é encontrada nas entranhas de todos os humanos (entre outros locais) e que não causa doença. Ela aparece aproximadamente três meses depois do nascimento e assim que a pessoa é infectada pelo bacilo Coli, desenvolve os antígenos A e B. Se a pessoa já possuir estes antígenos, eles não serão considerados estranhos e não haverá a formação de anticorpos. Se, no entanto, não os possuir, o sistema imunológico será afetado e formará anticorpos. Por exemplo, se a pessoa não tiver o antígeno-A, se tornará imune pelo antígeno-A estranho e formará o anti-A, o mesmo acontecerá com o antígeno-B e a formação de anti-B. Ou seja, anticorpos ABO sempre serão formados contra qualquer antígeno ABO que não esteja presente no organismo (veja a tabela).

Misturar o sangue de duas pessoas com tipos ABO diferentes pode até causar a morte. Isso porque, os anticorpos ABO de uma pessoa agirão contra os antígenos ABO da outra. Por exemplo, se você misturar o sangue de uma pessoa do tipo O com uma do tipo A, o sangue O, que inclui anti-A, reagirá contra os antígenos-A do sangue A. Esses tipos de sangue são chamados de incompatíveis.

Se você transfundir glóbulos vermelhos de tipos ABO incompatíveis (com antígenos capazes de reagir com os anticorpos no sangue do paciente), você terá uma reação chamada hemolítica à transfusão. Essa reação consiste na destruição dos glóbulos vermelhos, com liberação de substâncias no sangue que fazem com que a pressão sanguínea diminua e com que os glóbulos vermelhos se rompam (hemólise). Reações hemolíticas sérias podem causar a morte.


É possível transfundir sangue O a todos os tipos ABO, sangue A aos tipos A e AB e sangue B aos tipos B e AB.


Na prática, um paciente deveria receber sangue apenas de doadores com o mesmo tipo ABO que o seu, de forma a evitar complicações na transfusão resultante de resíduos de plasma na mistura de glóbulos vermelhos e soro. Entretanto, em casos de baixa de estoque, é possível ministrar apenas glóbulos vermelhos na pessoa.

O sistema Rhesus

Diferente dos antígenos do sistema ABO, os antígenos do sistema Rhesus são encontrados apenas na superfície das hemácias e não na de outras células. Há cerca de 50 antígenos Rhesus diferentes mas apenas 5 são importantes quando uma transfusão é aplicada.

O mais importante é o antígeno-D. Assim, quando o tipo Rhesus é determinado, apenas este antígeno é levado em consideração. Se você tiver o antígeno-D você é Rhesus positivo (RhD pos). Se você não tiver o antígeno-D, você é Rhesus negativo (RhD neg). Cerca de 81% da população brasileira é Rhesus positivo e cerca de 19% Rhesus negativo (veja a tabela abaixo).

Gene Paterno
Gene materno
Genótipo
Antígeno
Fenótipo
Incidência
Anticorpo
D
D
DD
D
RhD pos
80,5%
Incapaz de formar Anti-D
d
D
dD
Não D

RhD neg
19.5%
Capaz de Formar anti-D
D
d
Dd
d
d
dd


A tabela mostra a conexão entre os genes-S herdado dos pais; o genótipo-D; a incidência de antígenos-D nos diferentes tipos Rhesus; o fenótipo-D ou o tipo sanguíneo Rhesus; a incidência dos tipos de Rhesus na população brasileira; e a incidência dos anticorpos anti-D no sistema Rhesus de sangue, no caso da influência por glóbulos vermelhos RhD positivos de outra pessoa.


O sistema Rhesus de tipo sanguíneo é importante porque o antígeno-D é muito imunogênico, o que significa que ele induz facilmente a formação de anticorpos em quem precisa. Normalmente, uma pessoa não cria anticorpos Rh a não ser quando exposta previamente aos glóbulos vermelhos de outra pessoa, porque os antígenos Rhesus são encontrados apenas na superfície destes. Em circunstâncias normais é possível aplicar a primeira transfusão sanguínea sem levar em consideração o sistema Rhesus.


As características do sangue foram primeiramente descobertas no macaco-Rhesus e por isso nomeadas em sua homenagem. A descoberta foi realizada um pouco antes do início da Segunda Guerra Mundial.


Se o sangue RhD positivo foi transfundido em uma pessoa RhD negativo, que tenha o anticorpo anti-D em seu plasma, este pode causar sérias complicações hemolíticas na transfusão. O anti-D também é a causa principal da séria doença chamada ‘icterícia fisiológica do recém-nascido’, na qual o anti-D da mãe Rhesus negativo passa pela placenta ao feto Rhesus positivo e se une aos glóbulos vermelhos deste que são danificados e se partem. Neste caso, a mãe desenvolveu o anti-D em gestações anteriores e/ou transfusões sangüíneas prévias.

Para evitar a formação de anticorpos anti-D perigosos, pacientes que são Rhesus-D negativos devem receber apenas sangue Rhesus-D negativo. Em caso de falta de sangue Rhesus-D negativo, exceções podem ser feitas, mas apenas se o paciente ainda não tiver o anti-D, nem exista a possibilidade de gravidez no futuro (por exemplo, em mulheres após a menopausa).

Na primeira imunização (primeira vez que uma pessoa RhD negativo encontra com o antígeno-D), o sistema imunológico da pessoa reagirá vagarosamente, uma vez que ainda não existem anticorpos contra o anti-D circulando no plasma. Demorará algum tempo até que os linfócitos se tornem ativos e se desenvolvam. O anticorpo só será formado meses depois da transfusão ou da gravidez.

Na próxima vez que o corpo for exposto ao antígeno-D, já terá acontecido uma imunização. Assim, haverá reação entre o antígeno-D e as células de memória do sistema imunológico, e entre o anti-D formado e os glóbulos vermelhos estranhos, que serão destruídos rapidamente.

Lembro-me de ouvir mais de uma vez quando criança que o meu tipo sanguíneo (O neg) era o “doador universal” e por isso, muito importante. Embora meus pais nunca tenham doado sangue ou me incentivado diretamente, acho que apenas saber isso foi o suficiente.


Pouco depois de completar 18 anos, fiz minha primeira doação e lembro até hoje de descer as rampas da faculdade me sentido uma heroína. Nunca mais parei, dôo pelo menos uma vez ao ano e acabei também me tornando uma voluntária do sangue, trabalhando para divulgar essa causa vital. 

Letícia Côrtes Ferreira


A distribuição dos tipos sanguíneos na população brasileira:

Tipos
Fatores Rh
Soma
( - )
( + )
O
45%
9%
36%
A
42%
8%
34%
B
10%
2%
8%
AB
3%
0,5%
2,5%
Total
100%
19,5%
80,5%

Resumo e questões

Os dois sistemas de tipo sanguíneo mais importantes são o ABO e o Rhesus. Os antígenos do sistema ABO são encontrados na superfície de todas as células do corpo, em bactérias, e nas plantas. Os antígenos Rhesus são encontrados apenas na superfície dos glóbulos vermelhos.

Herda-se os genes ABO e Rhesus de cada um dos pais e estes dois genes determinam qual o genótipo de cada pessoa. O genótipo indica quais foram os genes herdados. Os genes determinam quais os tipos de antígenos que uma pessoa tem. Os antígenos determinam qual o tipo de sangue (também chamado fenótipo). Assim, o tipo sanguíneo se torna uma expressão dos antígenos que o corpo formou. Da mesma forma que o corpo forma anticorpos contra os antígenos estranhos, o corpo forma os anticorpos de tipo sanguíneo contra os antígenos de tipo sanguíneo estranhos.

Como os antígenos do tipo ABO não são encontrados apenas em humanos, mas na natureza – por exemplo nos bacilos Coli – entramos todos em contato com esses ‘estranhos’ antígenos ABO muito cedo em nossa vida, formando anticorpos contra eles. Em uma transfusão, o sangue de mesmo tipo ABO que o do paciente é aplicado, caso contrário a reação entre o anticorpo do paciente e o antígeno do doador nos glóbulos vermelhos causará uma complicação hemolítica a transfusão. Os glóbulos vermelhos transfundidos são rapidamente destruídos, causando uma ameaça a vida.

Entre outras coisas, o sistema Rhesus consiste de antígenos D que induzem a criação do anticorpo anti-D. Como o antígeno Rhesus-D é encontrado apenas nos glóbulos vermelhos, a única forma do antígeno entrar no corpo é através da gravidez (quando uma pequena parte do sangue do feto é transferida para a mãe) ou de transfusões sanguíneas. Devido à grande habilidade do antígeno-D de induzir a formação de anticorpos, o risco de uma imunização é grande se a pessoa que é Rhesus negativa receber o antígeno-D em seu corpo.

  1. Como se chamam os antígenos que determinam o seu tipo ABO?
  2. Como você recebe os anticorpos A e B em seu sangue quando ainda é bem pequeno?
  3. Em quais casos você pode se tornar imune a formação do anti-D?
  4. Descreva a inter-relação entre genótipo, fenótipo e tipo sanguíneo.
  5. O que é uma complicação hemolítica na transfusão?

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